Objetivo

Este blog tem por finalidade reunir criações literárias de escritores independentes. O grupo que aqui se apresenta teve início com a Oficina Literária ministrada por Diego Petrarca, mas esta aberta a outros que por ventura quiserem ter seus textos publicados.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Casa na árvore

Tu, velho anduco, de cabelo ralo, esbelta postura franzina, braços cruzados, de costume cansado e nostálgico balbuciador de  lamúrias incompreensíveis, como um cão que rosna para o próprio rabo, decidiste, sabe-se lá o porquê, construir na árvore, uma morada, decidiste, assim, como te decides trocar de gravata naquelas ocasiões em que o conviva já não respira mais.
Em uma pequenina árvore, aquela sequóia, não, não esta, aquela, esta, esta, isso, nessa mesma, a menorzinha, escolheste teu alicerce para edificar tuas incompreensões e  poupar-te o trabalho da escada, cansar-te-ia demais essa escada (tu, velho, gostas de resultados rápidos).

Como todos os outros, aqueles proletários que constroem para poder gozar melhor da vida e deitar as preocupações no consolador da noite (o travesseiro), este velho não o era.

E ao passo da tua escolha começaste a construção, uma betoneira orgânica era a tua cabeça, lembrava-te do presente, passado e futuro ou era o presente do passado futuro que te fazia abrir a boca sem querer e perguntar sem responder?

Perguntas ou respostas sem respostas ou perguntas, findou a morada sobre a pequenina sequóia.

Não precisaste muito esforço para entrar na tua morada, apenas um leve alçar de joelho.

Adormeceste no chão mesmo sem te dar conta das horas a fio em que trabalhaste. Acordaste, ora, ora, sem nenhuma dorzinha. Poste a fuça pra fora da porta, ainda bastava um baixar de joelho para saíres da morada. Não aguentas esperar tanto?

Não. Não aguentou esperar tanto.

Te trancaste na morada até que a pequenina sequóia estivesse em condições de te fazer dar mais que um salto para sair-te daí e contar a todos tua façanha, pequena façanha essa, grande arrogância tua. 

Adormeceste um ano ou dois? Eram mais, velho.

Poste a cabeça para fora depois de tantos anos e tua barba grisalha arrastada no teu assoalho e tuas costas curvas atrapalham-te a caminhada, a barba, parava em cada farpa as costas doíam a cada passo. Poste a cabeça pra fora.

Não vias o chão em que pisaste a última vez, só enxergavas neblina e uns poucos galhos da tua sequóia. Não percebeste, mas dormistes muito tempo. Percebe, meu velho, tu estás mais próximo do céu.

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