Objetivo

Este blog tem por finalidade reunir criações literárias de escritores independentes. O grupo que aqui se apresenta teve início com a Oficina Literária ministrada por Diego Petrarca, mas esta aberta a outros que por ventura quiserem ter seus textos publicados.

domingo, 11 de março de 2012

Intimidade

Intimidade é uma merda, é como soltar o freio demão na lomba, já não se admira a paisagem na descida, só o frio-ruim na barriga de quem não sabe onde vai parar ou ser parado.
Não se encontra mais espaço para uma poesia, mt menos a admiração do novo. 
Os filmes se tornam sem graça e tudo que por mais inédito que se apresente, pode e vai ser comparado a alguma coisa ja assistida anteriormente.
O amor sem paixao carnal, que antes fora amor com paixao carnal, prega peças. 
Te faz titubear nas frases mais simples.
Adequar-se é difícil, quando não: chato e entediante.
Eu sei o que tu ta sentindo, pelo menos acho que sei e entendo o teu desespero em ver aquele vaso lindo que um dia guardava as rosas, caindo escada a baixo das mãos de uma empregada descuidada.
As lembranças se fazendo em mais louça do que havia vaso.
Só restando a ausência: de palavras, atos, de corpos e sentidos!

domingo, 1 de janeiro de 2012

Sentidos

No cachorro,
Na criança que mia,
No ranger de dentes,
No cafungar esquecido,
No paladar inaudível,
Na saliva seca socando a carne atravessada,
Nos olhos cegos que se cruzam e não dizem nada,
No breu do dia que a luz não chega,
Escuto o mundo,
Na falta luz.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Casa na árvore

Tu, velho anduco, de cabelo ralo, esbelta postura franzina, braços cruzados, de costume cansado e nostálgico balbuciador de  lamúrias incompreensíveis, como um cão que rosna para o próprio rabo, decidiste, sabe-se lá o porquê, construir na árvore, uma morada, decidiste, assim, como te decides trocar de gravata naquelas ocasiões em que o conviva já não respira mais.
Em uma pequenina árvore, aquela sequóia, não, não esta, aquela, esta, esta, isso, nessa mesma, a menorzinha, escolheste teu alicerce para edificar tuas incompreensões e  poupar-te o trabalho da escada, cansar-te-ia demais essa escada (tu, velho, gostas de resultados rápidos).

Como todos os outros, aqueles proletários que constroem para poder gozar melhor da vida e deitar as preocupações no consolador da noite (o travesseiro), este velho não o era.

E ao passo da tua escolha começaste a construção, uma betoneira orgânica era a tua cabeça, lembrava-te do presente, passado e futuro ou era o presente do passado futuro que te fazia abrir a boca sem querer e perguntar sem responder?

Perguntas ou respostas sem respostas ou perguntas, findou a morada sobre a pequenina sequóia.

Não precisaste muito esforço para entrar na tua morada, apenas um leve alçar de joelho.

Adormeceste no chão mesmo sem te dar conta das horas a fio em que trabalhaste. Acordaste, ora, ora, sem nenhuma dorzinha. Poste a fuça pra fora da porta, ainda bastava um baixar de joelho para saíres da morada. Não aguentas esperar tanto?

Não. Não aguentou esperar tanto.

Te trancaste na morada até que a pequenina sequóia estivesse em condições de te fazer dar mais que um salto para sair-te daí e contar a todos tua façanha, pequena façanha essa, grande arrogância tua. 

Adormeceste um ano ou dois? Eram mais, velho.

Poste a cabeça para fora depois de tantos anos e tua barba grisalha arrastada no teu assoalho e tuas costas curvas atrapalham-te a caminhada, a barba, parava em cada farpa as costas doíam a cada passo. Poste a cabeça pra fora.

Não vias o chão em que pisaste a última vez, só enxergavas neblina e uns poucos galhos da tua sequóia. Não percebeste, mas dormistes muito tempo. Percebe, meu velho, tu estás mais próximo do céu.

sábado, 26 de novembro de 2011

À benção

 Queres saber, filho, o que são as estrelas?  Estrelas são pequenos leds cravados nesta grande placa que alguns chamam de céu.  E o sol?  Bueno, o sol é uma grande lâmpada incandescente cujo tungstênio nunca morre.  Aliás, filho, parabéns pelo teu 30º aniversário.   

(Rafael Muniz Espíndola)

segunda-feira, 14 de novembro de 2011

ÀS MANIAS - do pobre vulcão

Sim, caiu de uma pequena árvore, aquele pobre vulcão.
Vulcão sulcado...
Veias já lhe aparecem...
Perdeu o verde viçoso que lhe era natural...
Pobre vulcão, cai, e ainda pisoteado, insiste em fazer parte D'aquilo...
Já não nos ajuda mais, ajuda a ficar no chão, aquele pobre vulcão...
ajuda a forrar uma mansão de um sabiá, a ficar ao pé de um jacarandá...
não ajuda em muita coisa o pobre vulcão...
Enquanto cai o pobre vulcão, perde a seiva alaranjada...
e seca antes de encostar o chão
pobre vulcão...

(Rafael Muniz Espíndola)