Objetivo

Este blog tem por finalidade reunir criações literárias de escritores independentes. O grupo que aqui se apresenta teve início com a Oficina Literária ministrada por Diego Petrarca, mas esta aberta a outros que por ventura quiserem ter seus textos publicados.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

D. Lalá

Laura já não era mais nem sombra do que fora no passado. Quem a visse agora enrugada, flácida, chupada, com a cara bexiguenta, nunca imaginaria que dona Lalá, como era carinhosamente chamada, foi a puta mais desejada de Porto Alegre. Ali, sentada no fundo do cabaré Sedução, silenciosa, com um cigarro entre os dedos, estava guardada boa parte dos segredos da cidade. Se a polícia interrogasse a velha puta, muitos crimes teriam sido resolvidos. Mas a profissão não dava credibilidade, dizia ela. Permanecia assim o dia todo. Levantava-se apenas por necessidade. Curvada, arrastava com dificuldade os chinelos pelo salão e ia ao banheiro limpar a bolsa de colostomia.
Morava em uma peça no fundo do puteiro. Vaidosa, acordava cedo, tomava banho, escovava bem a dentadura, penteava os cabelos e se maquiava. Vinha para o salão. Gabava-se de ter trepado com três gerações de homens. Boatos diziam que um chefe de Estado havia lhe proposto casamento. Mas ninguém sabia ao certo. Para as novatas o que mais atraía eram as histórias que ela contava em dias de pouco movimento.   
Naquele dia, Lalá estava diferente. No lugar daquela aparente serenidade, agora havia uma agitação, falava sozinha, murmurava palavrões, gesticulava.

(Carlos Rosa)
 

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